Alongamento do Calcâneo para Tratamento do Pé Plano Valgo Neurológico
O arco longitudinal normal se desenvolve na maioria das crianças entre
os três e os cinco anos de idade, mas em 4% da população o pé plano
persiste até os 10 anos(10,17).
Esta diminuição da altura do arco
longitudinal plantar é genericamente chamada de pé plano. Se a depressão
do arco é acompanhada de eversão do retropé e abdução do antepé,
denomina-se de pé planovalgo(10).
O pé plano valgo adquirido de
origem neurológica é mais comumente encontrado nos casos de Paralisia
Cerebral do tipo Diplegia espástica. Na Mielomeningocele também podemos
encontrar com frequência pacientes com esta deformidade(20).
O
trabalho com maior seguimento de bons resultados para o tratamento do pé
plano valgo foi escrito por Evans(6), utilizando como técnica a
osteotomia de alongamento da coluna lateral do pé. Entretanto, Evans(6)
acreditava que não conseguiria os mesmos bons resultados em pacientes
com desequilíbrio muscular, por isso contraindicava este procedimento
cirúrgico para pacientes com Paralisia Cerebral (PC) e Mielomeningocele.
Foi apenas após o trabalho escrito por Mosca em 1995(12), que esta técnica se popularizou e se difundiu entre os ortopedistas.

As indicações parar osteotomia de alongamento do calcâneo, ou para
qualquer procedimento corretivo nos pés planos valgos, devem ser
limitadas aos pacientes que não obtiveram melhora com tratamento
conservador e aos que apresentam dor, calosidades e/ou ulcerações sob o
tálus que esteja fixo em flexão plantar. Deve se ter em mente, que estes
pacientes também podem apresentar contratura associada do tendão de
Aquiles, os quais devem ser alongados de forma simultânea(13).
A
osteotomia posterior de deslizamento medial do calcâneo pode melhorar a
aparência clínica do valgo do retropé, mas não corrige a deformidade do
complexo articular subtalar(13).
Andreacchio(2), defende a técnica
de osteotomia de alongamento em relação à artrodese subtalar quando a
deformidade é moderada e flexível, pois preserva a mobilidade do pé. A
presevação da mobilidade da articulação subtalar, segundo os autores,
reduz a progressão futura para uma artrose degenerativa. Os autores
advogam a técnica cirúrgica de artrodese para os casos de pacientes não
deambuladores, com deformidade severa e com deformidades anatômicas
associadas.

REFERÊNCIAS
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